quarta-feira, 7 de novembro de 2007

06 de Novembro

Essa data não me traz boas lembranças. Infelizmente algumas vezes a esquecia, ou felizmente. Bem, isso é relativo. A data me lembra a dor de uma perda irreparável, por outro lado, quando a esquecia, me sentia bem. Há três anos atrás, nesse mesmo dia, eu acabara de perder meu chão, parte da minha vida, e deixado tocar ao chão as lágrimas, de um ser triste, que só pensava num modo de fazer com que sua própria vida tivesse fim. Nesse dia, eu perdi uma pessoa que sempre fez TUDO por mim. Sempre foi TUDO para mim, e que vai continuar sendo. Que me ensinou o que é certo, e o que é errado. Me fez aprender, com os meus próprios erros. Que me fez estudar, ser educado, e, ser o que sou hoje. Vítima de uma bala perdida, para um mundo melhor, ela partia. Minha Mãe. As últimas palavras, que realmente importaram, no dia anterior, à sua morte, foram: "Mãe, você está tão linda desse jeito. Com o cabelo assim, você fica mais linda!"

Contudo, parece que essa data insistiu, e me perseguiu, durante todo esse tempo. No quinto dia, do mês de novembro, com uma notícia que já me deixara muito triste, recebi uma ligação, com uma voz aflita: - "Wiliam, traz os documentos do seu pai, rápido!" Eu pergunto: - "Pra quê?!" Respondem: - "Não faz perguntas, vem logo!" Ao chegar em outra casa, vejo meu pai, sendo carregado, por duas pessoas, pensei: "Ele teve outra crise de epilepsia", mas, era muito pior. Ele teve crises de epilepsias, em intervalos menores, durante todo o dia, trancado num quarto, onde ninguém sabia que ele estava, por mais de doze horas, sem socorro médico. A situação era desesperadora. Sabia que o pior poderia acontecer, mas, não queria crer. Isso é muito difícil...

Levamos meu pai, para uma Unidade de Pronto-Atendimento, ele foi acomodado, e, ficou sob cuidados especiais, porque o caso era GRAVE. Meu pai tinha sido encontrado, caído no chão. Depois de diagnosticá-lo, o médico disse que ele tinha batido muito a cabeça no chão, em
virtude da crise, e o baço também, na queda. Estava muito machucado. Algumas horas depois, pude entrar na sala, para vê-lo. Ele realmente não estava muito bem, nem aparentemente. A esperança de que poderia sair com ele vivo daquele lugar, era muito grande, três dias depois, seria o seu aniversário, e, dias antes, feliz, ele já comentava, que não tinha dinheiro, pra tomar uma cerveja no aniversário. Meu pai, não trabalhava, nem podia, por causa da doença. Ele estava correndo atrás da sua aposentadoria, nada mais justa. Mas, como nesse país, a maioria pensa no seu próprio rabo, não há interesse algum, de conceder aposentadoria, a alguém que aparentemente, esbanja saúde. Esse era um dos motivos, da sua ALTA pressão.
De todo o seu estresse. Meu pai era hipertenso, e lá descobrimos, que também era diabético. Meu pai era um cara forte, fez esporte quase toda a vida, era "saudável". Recordo-me das vezes em que íamos pra praia juntos, jogar bola, nadar, correr...saudades...

Ele estava gelado, com um pouco de sangue seco, no ouvido, ainda respirando, estava dormindo. Poderia acordar a qualquer momento, eu imaginava...
A situação era assustadora, mas, mesmo assim, eu tinha ESPERANÇA. e como diz o surrado ditado: "Esperança, é a última que morre!" Mas, esqueceram de dizer, que ela não é imortal...

Fiquei revezando o quarto com outra pessoa, e minutos depois, o quadro do meu pai, piorara. Tivemos que nos retirar do quarto. Antes de sair, tinha percebido que tinha lágrimas em seus olhos, isso me deixou triste, pois, parecia que aquela, era a única forma que ele tinha pra se despedir.

Enquanto aguardávamos na recepção, víamos médicos correndo, em direção ao quarto em que ele se localizava. Senti-me mais angustiado, mais triste, mais desesperado, e as lágrimas, caiam. Eu torcia para que não fosse chamado à sala de "Assistência Social", pois ela não me trazia boas recordações. Alguns minutos depois, fui chamado ao consultório, e o Dr., sem mais delongas, perguntou meu nome, e disse: (...) Wiliam, tentamos de tudo, mas, infelizmente, ele não resistiu...

As sensações foram as PIORES possíveis, foram mais intensas, mais tristes...foram horríveis! Eu acabara de perder a pessoa que mais amava/amo, no mundo. Novamente fiquei sem chão. Triste. E com o pensamento de que não estava acreditando no que estava acontecendo. Entretanto, era a dura, e cruel realidade. Meu pai, já não estava mais presente, não ali...

Deixei-lhe um beijo na boca, assim com no seu enterro, e um "EU TE AMO!", cheio de lágrimas. Disse-lhe infinitas vezes que o amava, e todas foram de coração, tanto em vida, quanto em morte, e tenho certeza de que ele sabia disso. Só vivia agarrado a ele, por mais calor que estivesse...*risos* Nunca vou esquecer dos seus ensinamentos, de todo o carinho que recebi de ti, das lágrimas de felicidade, por dizer que tinha orgulho de mim...

Hoje, dia oito de novembro, apenas penso, de como será daqui pra frente... vou ter que ser Pai, sem ter filho...cuidar da casa, pagar as contas, cuidar da irmã...uma infinidade de coisas, que um pai faz... pra sustentar a casa, e tudo mais...


Pai, ainda preciso muito de ti, preciso da sua ajuda...eu ainda nem tenho barbas direito, você ainda nem estava de cabelos completamente brancos, como querias que estivessem, na hora de sua morte... você não poderia ter ido...me ajude, onde estiver...mas, quem sou pra dizer a hora, que alguém tem que partir? Só tenho que agracer a Deus, por ter me concedido o PRIVILÉGIO de ser o seu filho, de ter o senhor como pai, de poder ter passado minha vida ao seu lado, nos momentos bons e ruins, de poder ter sido educado por você, de sempre poder ouvir de você, que porrada não dá educação. De sempre poder ter visto você chegar, depois de um dia duro de trabalho, carregando móveis pesados, por escadas e mais escadas, suado, fedido, e poder te dizer, que gostava do seu cheiro, e que estava com saudades. De poder ter bebido o primeiro gole de cerveja, ao seu lado, mesmo não tendo gostado (ainda não gosto)...De ter tido, até os últimos minutos de sua vida, os momentos felizes, os beijos, os abraços... de você, ter sido você, em qualquer situação... sempre simples, otimista, educado, e, feliz com a vida, mesmo com todos os problemas, que tu enfrentavas. Ainda tenho MUITO a aprender com você, e espero que me ajude, ou melhor, nos ajude, pois agora, somos apenas dois...

Obrigado por tudo, Sr. Djalma! Te amo, com todas as minhas forças, nunca irei te esquecer...Mãe, cuida dele, cuida de nós, aqui embaixo, precisamos de ti... obrigado amigos, por TUDO!
Pai, me espere...

Em breve, estaremos juntos...a vida é efêmera...

EU TE AMO, SEMPRE!

TE AMO...

Com Amor,

Wiliam

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Reflexo do Espelho

Já não era manhã, e eu tinha acabado de acordar. Com o cabelo desgrenhado, no sofá, vendo televisão, já podia ouvir os estalos humilhantes, de alguns tapas dolorosos, nas costas de alguém. Os sons vinham da vizinhança, e eu já sabia quem eram os personagens, pois, não eram as primeiras cenas, desse capítulo lúgubre.

Trata-se de pai e filho. Família. Sem alicerce. Apenas convivência. A discussão era porque o moleque estava fumando maconha demais, cheirando muito loló, chegando de madrugada em casa, e possivelmente, pegando algumas coisas de casa, pra poder se sustentar. O "engraçado" dessa história, é que o pai do moleque, fez tudo isso e muito mais, enquanto o moleque era menor, uns 11 ou 12 anos. Eu vi tudo, sou mais velho que o filho dele, e meu tio, estava no mesmo caminho, infelizmente. Já diz o velho ditado, que muitas vezes funciona: "Filho de peixe, peixinho é!"Nesse caso, funciona, pelo menos por enquanto. O pai tenta "corrigir", dando surra, chamando o filho de vagabundo, maconheiro, "cheirador", e tantas outras palavras de baixo calão. Tentativa frívola. Pobre homem.

Ele tenta enfurecidamente, destruir o reflexo do espelho, que não é ele. Alguém poderia dar uma solução muito fácil, e talvez até a mais óbvia - "Interna o moleque!", "Leva ele num psicólogo!" - Mas, pra família analfabeta, sem elo, com pai sem emprego, filhos não freqüentando mais a escola, creio que falte dinheiro e conhecimento, para o caso. A conversa aqui é outra. É na base da porrada, e essa, é recíproca, lastimavelmente. O moleque já nem respeita mais o pai, diz que vai matá-lo, e tudo mais.

Aos poucos o recruta vai se formando, e não vai demorar muito, pra ficar com o radinho na mão, e uma pochete na cintura. Fase de adolescência já é foda, imagine desse jeito. A culpa é de quem? Do pai? Porra nenhuma! O pai dele teve os seus meios, pra arrumar dinheiro, e colocar comida em casa. Perdeu a esposa. Teve que criar os filhos sozinhos. Não é totalmente inocente na história, mas também, não é o único culpado. Lembra da migração dos nordestinos, que gerou uma aglutinação nos centros urbanos? É mais uma família. Por que isso aconteceu? Maldita concetração de riqueza! Desigualde. Falta de investimentos. Ainda precisamos de REFORMA, porque isso só aumenta. Hoje o transporte é mais "evoluído", o que facilita mais ainda a migração, e conseqüentemente os mesmos problemas, pois os sonhos são os mesmos. Eles vêm em busca de emprego, moradia e conforto, como "muitas" outras pessoas já têm. Pessoas com maior poder aquisitivo, informação, resolveria esse problema facilmente. E quem não têm?

O sistema está conseguindo cada vez mais voluntários de guerra, o exército está se formando. Os ataques já acontecem. Mas, esse exército não é pra proteger ninguém...

A culpa é de quem?
A culpa é de quem?


Luz e Saúde

Wil

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Vendendo pipoca

Enquanto o vento soprava, e a chuva dava o ar de suas graças, na noite de ontem, e o frio começava a aparecer, depois de um grande intervalo de dias, nesse mês, vi um garoto aqui da comunidade, que vi crescer, passando pela Via Seletiva. Quando me viu, com um sinal de positivo e um simplório sorriso, em sua face, cumprimentou-me. Talvez o sinal de positivo fosse em relação às suas vendas de pipoca, na Linha Vermelha. Espere! Na Linha Vermelha?? Sim, ele estava vendendo pipoca na Linha Vermelha. No início da garoa de ontem, no começo do frio, enquanto muitos estavam no 'requinte' do seu lar.

O garoto deve estar agora com quinze anos, mas, tão franzino e pequeno, quanto um garoto de doze. Essas são caracterísiticas e 'profissões' de muita gente aqui dentro, 'profissões' que para alguns nem tem o mesmo intuito, e o intuito desse garoto, não era comprar um tênis, um boné, uma camisa, presentear a namoradinha, e tampouco o início de sua 'independência'. Infelizmente, ele é mais um que caiu no sitema das ruas. Ele trabalha para sustentar os seus próprios vícios, a maconha, o loló, o pó...e vai continuar assim, porque não tem policiamento, não tem informação, a mãe é semi-analfabeta, o irmão, um pouco mais velho, já está no mesmo caminho, a irmã, os visitam de vez em quando, e o outro irmão, não aparece, e a outra irmã, com menos freqüência do que a outra, quase que raramente.

Mais um soldado com raiva, que vai se formando aos poucos, por conta da negligência e hipocrisia de muita gente. Enquanto ele vive essa ilusão, o mundo gira, e uma Lei vai sendo alterada pra pegar ele, e quando ele menos esperar, já vai estar com trinta anos, se arrependendo de tudo o que fez, procurando emprego, e dessa vez, vai ser pra sustentar a mamata de outras pessoas.
Será que vai ter emprego? Ele vai estar preparado para o mercado de trabalho? Bem, não sei. A única coisa que sei, é que do outro lado da moeda, a história seria extremamente diferente... e lá, a Lei não funciona como aqui, por quê?

Wil

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Um país e suas vertentes...

Impunidade...
Corrupção...
Desonestidade...
Super faturamento...
Omissão...
BraZIL ZIL ZIL ZIL...