quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Reflexo do Espelho

Já não era manhã, e eu tinha acabado de acordar. Com o cabelo desgrenhado, no sofá, vendo televisão, já podia ouvir os estalos humilhantes, de alguns tapas dolorosos, nas costas de alguém. Os sons vinham da vizinhança, e eu já sabia quem eram os personagens, pois, não eram as primeiras cenas, desse capítulo lúgubre.

Trata-se de pai e filho. Família. Sem alicerce. Apenas convivência. A discussão era porque o moleque estava fumando maconha demais, cheirando muito loló, chegando de madrugada em casa, e possivelmente, pegando algumas coisas de casa, pra poder se sustentar. O "engraçado" dessa história, é que o pai do moleque, fez tudo isso e muito mais, enquanto o moleque era menor, uns 11 ou 12 anos. Eu vi tudo, sou mais velho que o filho dele, e meu tio, estava no mesmo caminho, infelizmente. Já diz o velho ditado, que muitas vezes funciona: "Filho de peixe, peixinho é!"Nesse caso, funciona, pelo menos por enquanto. O pai tenta "corrigir", dando surra, chamando o filho de vagabundo, maconheiro, "cheirador", e tantas outras palavras de baixo calão. Tentativa frívola. Pobre homem.

Ele tenta enfurecidamente, destruir o reflexo do espelho, que não é ele. Alguém poderia dar uma solução muito fácil, e talvez até a mais óbvia - "Interna o moleque!", "Leva ele num psicólogo!" - Mas, pra família analfabeta, sem elo, com pai sem emprego, filhos não freqüentando mais a escola, creio que falte dinheiro e conhecimento, para o caso. A conversa aqui é outra. É na base da porrada, e essa, é recíproca, lastimavelmente. O moleque já nem respeita mais o pai, diz que vai matá-lo, e tudo mais.

Aos poucos o recruta vai se formando, e não vai demorar muito, pra ficar com o radinho na mão, e uma pochete na cintura. Fase de adolescência já é foda, imagine desse jeito. A culpa é de quem? Do pai? Porra nenhuma! O pai dele teve os seus meios, pra arrumar dinheiro, e colocar comida em casa. Perdeu a esposa. Teve que criar os filhos sozinhos. Não é totalmente inocente na história, mas também, não é o único culpado. Lembra da migração dos nordestinos, que gerou uma aglutinação nos centros urbanos? É mais uma família. Por que isso aconteceu? Maldita concetração de riqueza! Desigualde. Falta de investimentos. Ainda precisamos de REFORMA, porque isso só aumenta. Hoje o transporte é mais "evoluído", o que facilita mais ainda a migração, e conseqüentemente os mesmos problemas, pois os sonhos são os mesmos. Eles vêm em busca de emprego, moradia e conforto, como "muitas" outras pessoas já têm. Pessoas com maior poder aquisitivo, informação, resolveria esse problema facilmente. E quem não têm?

O sistema está conseguindo cada vez mais voluntários de guerra, o exército está se formando. Os ataques já acontecem. Mas, esse exército não é pra proteger ninguém...

A culpa é de quem?
A culpa é de quem?


Luz e Saúde

Wil

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Vendendo pipoca

Enquanto o vento soprava, e a chuva dava o ar de suas graças, na noite de ontem, e o frio começava a aparecer, depois de um grande intervalo de dias, nesse mês, vi um garoto aqui da comunidade, que vi crescer, passando pela Via Seletiva. Quando me viu, com um sinal de positivo e um simplório sorriso, em sua face, cumprimentou-me. Talvez o sinal de positivo fosse em relação às suas vendas de pipoca, na Linha Vermelha. Espere! Na Linha Vermelha?? Sim, ele estava vendendo pipoca na Linha Vermelha. No início da garoa de ontem, no começo do frio, enquanto muitos estavam no 'requinte' do seu lar.

O garoto deve estar agora com quinze anos, mas, tão franzino e pequeno, quanto um garoto de doze. Essas são caracterísiticas e 'profissões' de muita gente aqui dentro, 'profissões' que para alguns nem tem o mesmo intuito, e o intuito desse garoto, não era comprar um tênis, um boné, uma camisa, presentear a namoradinha, e tampouco o início de sua 'independência'. Infelizmente, ele é mais um que caiu no sitema das ruas. Ele trabalha para sustentar os seus próprios vícios, a maconha, o loló, o pó...e vai continuar assim, porque não tem policiamento, não tem informação, a mãe é semi-analfabeta, o irmão, um pouco mais velho, já está no mesmo caminho, a irmã, os visitam de vez em quando, e o outro irmão, não aparece, e a outra irmã, com menos freqüência do que a outra, quase que raramente.

Mais um soldado com raiva, que vai se formando aos poucos, por conta da negligência e hipocrisia de muita gente. Enquanto ele vive essa ilusão, o mundo gira, e uma Lei vai sendo alterada pra pegar ele, e quando ele menos esperar, já vai estar com trinta anos, se arrependendo de tudo o que fez, procurando emprego, e dessa vez, vai ser pra sustentar a mamata de outras pessoas.
Será que vai ter emprego? Ele vai estar preparado para o mercado de trabalho? Bem, não sei. A única coisa que sei, é que do outro lado da moeda, a história seria extremamente diferente... e lá, a Lei não funciona como aqui, por quê?

Wil