quinta-feira, 15 de julho de 2010

Apenas viva.

Desperta. Um breve suspiro, e levanta-se. Acordara antes mesmo do despertador. O cabelo sobre os olhos dificultava a visão da insônia, pela janela. A noite ainda madrugava. O dia se escondia entre seus anseios. Olhava para o relógio e notava que ainda lhe restavam duas horas. As ideias, confusas, buscavam um modo melhor de se organizar e, tentar lhe dizer alguma coisa. Todavia, era em vão. Não lembrara o que sonhara, e se sonhara. A frustração aumentava na medida em que começava a acreditar que não sonhou. Se decepcionou. Pois, sabia que os sonhos não tinham acabado. Deixava de ser um sonhador?

Lentamente, caminhava em direção à sala. Sentava no sofá. Em meio a mais um suspiro, passava a mão sobre o cabelo desgrenhado, em busca de algum pensamento que o remetesse a si mesmo. Sentia-se perdido. Permaneceu por mais alguns instantes, e tornou-se a levantar. Dirigia-se à cozinha. Sentia sede. Foi até o armário, e pegou um pacote de café expresso. Enquanto o mesmo era preparado, decidiu ouvir uma música. Ligou o rádio. E, gradualmente, o som do violão era disseminado entre os cômodos da casa. Buscou algumas roupas, e foi tomar banho.

Ao entrar, o espelho refletia seus olhos vermelhos, inchados. Lembrou que chorara durante algumas horas atrás. E, mesmo sem saber o motivo, desviara o olhar de si mesmo. Despiu-se, e começou a banhar-se. A água que caía sobre sua face rapidamente misturou-se às novas lágrimas, proporcionando um sabor depressivo, e salgado. Apenas chorou como se soubesse que tudo iria passar, mas que era necessário fazê-lo naquele instante. Nesse momento, elucubrava, devaneava, chorava. Os pensamentos fluíam, e, ainda que confusos, sem significar nada, como mais um fracasso. Sentia-se incapaz. No fim dos soluços desesperados, com a respiração ofegante, o breve silêncio anunciava o final de uma música que iria lhe soar, ainda que distante, como se estivesse próximo a uma caixa amplificada os versos:

“E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar”

Parou por alguns instantes e respirou fundo. Sob a água, abatia-se como se os versos caíssem sobre seus ombros. Voltou a refletir sobre si mesmo, e nada mais. Decepcionou-se.

Porém, nesse instante percebera o que levara àquele momento. E, constatou que fora a própria decepção e a descrença em si mesmo. Sentiu-se roubado. Imaginou a personificação de suas mazelas lhe arrancando do peito a vontade de seguir em frente.

Após ter tomado café, de banho tomado, vestido, de barba feita, notava-se um semblante distinto. Já não importava o motivo do choro, e sim, o fato de estar triste. E, decidiu que mudaria isso. No rádio, a previsão do tempo anunciava, no intervalo das músicas, um dia lindo, sem nuvens e uma manhã agradável. Tomou café. Lembrou-se que era domingo, e não trabalhava. Colocou um cd, e escolheu uma faixa específica. E, num determinado ponto da música, gritou os versos como se naquele momento se libertasse das correntes soturnas que lhe prendiam ao canto mais escuro de seus pensamentos:

“Eu que já não sou assim
muito de ganhar
junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
só pra viver em paz.”

Seja como for, apenas viva.

2 comentários:

Mayara Potenza disse...

Esse texto tem um estilo muito parecido aos meus mais antigos. Eu os guardo até hoje. Porque, na verdade, só você o entende 100%, né? Posso estar errada, mas creio ser um daqueles desabafos na terceira pessoa, personagem misturado com real, confusão que não entendemos direito.

Talvez, daqui uns dois meses, nem você saiba bem o quis dizer aí. Coisas da escrita...

Eu gostei, voltarei mais. :)

Will disse...

Você é muito espertinha pro meu gosto. hahaha

Perspicácia.

Será sempre bem vinda. ;D