domingo, 12 de outubro de 2008

Esquizofrenia Móvel

Autoria: Fernando Rabelo

Esquizofrenia Móvel

 

Certo dia, estava voltando para casa, entrei em um ônibus. Enquanto passava pela roleta e entregava o dinheiro da passagem para o cobrador, o mesmo me olhou no rosto e disse:

            -“E então, o que você acha de agente sair neste sábado?”

            Não soube o que fazer. Em menos de um segundo repeti a frase na minha mente umas quinze vezes, trocando a ordem das palavras, tentando achar um outro significado pra cada uma delas, até tentei me convencer que isso poderia significar, ”não tenho troco para dez”. Mas não deu. Tudo que consegui dizer foi um tímido e gago “QUÊ?

            Minha cara de espanto de receber um convite desses de um desconhecido, ainda mais se tratando de um homem, mudou bruscamente para cara de idiota, assim que vi que o indivíduo estava com um fone de ouvido, destes que vem com microfone embutido para falar no celular.

            Logo, o cobrador fez um gesto dizendo que eu poderia passar e continuou a conversa com uma pessoa do outro lado da ligação.

            Fiquei pensando, se ao invés de mim, uma pessoa agressiva estivesse no meu lugar, o coitado do cobrador teria levado uns socos por estar falando no celular, como se a outra pessoa estivesse logo ali, em sua frente.

           

Já reparou que cada vez mais esta cena se torna comum? A cada dia vejo mais pessoas falando ao telefone e gesticulando exageradamente, apontando para o lado, fazendo sinais de aprovação ou de desaprovação com a cabeça. Parece que abriram as portas da Mansão Foster para Amigos Imaginários.

Acho que muitos esquizofrênicos disfarçam colocando um celular no ouvido, para ninguém perceber que estão falando com seres não existentes.

Por isso que toda vez que vejo um/uma figura falando no celular de maneira suspeita, começo a achar que ele não é muito certo da cabeça.  Perto da minha casa mesmo, tem um rapaz que todo dia, no mesmo horário está “falando” no celular aos berros, gritando que roubaram seu carro ou que roubaram o radio do carro dele.

Cada vez menos, as pessoas conversam quando estão perto uma das outras, seja por falta de tempo, seja por está vendo televisão ou navegando na internet. O fato é que quanto mais a comunicação de longa distância evolui, a de curta distância é deixada de lado.

3 comentários:

Will disse...

E tudo mudou...

Unknown disse...

Concordo plenamente.

Acho pavoroso pessoas que não sabem falar ao telefone, gesticulam, falam alto e algumas parecem se exibir com isso.

Perdem a noção de que principalmente ao telefone, noções de educação e privacidade são necessárias.

Alice,

http://sindromedealice.wordpress.com

Unknown disse...

Po cara, eu acho essa idéia meio pavorosa.
É como o mencionado:
"O fato é que quanto mais a comunicação de longa distância evolui, a de curta distância é deixada de lado."

Isso me faz pensar que estamos deixando o lado humano de lado...